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Senna – Social Bauru
A série da Netflix sobre Ayrton Senna é, sem dúvida, uma obra feita com cuidado e respeito ao legado do tricampeão mundial. A imersão visual e emocional que ela oferece é um dos pontos altos, proporcionando uma viagem ao passado que captura o espírito de uma época em que o automobilismo era mais do que um esporte: era um símbolo de esperança para muitos brasileiros.
A minissérie Senna conta a história de Ayrton Senna, herói brasileiro dentro e fora das pistas da Fórmula 1. Ao longo de seis episódios, a produção mergulha na trajetória do piloto com um olhar intimista acerca de Ayrton como piloto e como pessoa, contando com a colaboração ativa de sua família no desenvolvimento da série. A trama de Senna se desenrola a partir da largada da carreira do automobilismo, na Fórmula Ford, e acompanha sua jornada até o trágico acidente que tirou sua vida e deixou um país inteiro de luto, no Grande Prêmio de San Marino.
A atuação de Gabriel Leone é outro destaque. Ele entrega uma performance que equilibra a humanidade e o heroísmo de Senna, trazendo nuances que evitam cair em caricaturas. A produção e a ambientação também merecem aplausos, pois são cuidadosas e fiéis ao período retratado.
A fotografia impecável e o uso inteligente da trilha sonora emocionante elevam a experiência, criando momentos que tocam fundo, especialmente no último episódio, que não poupa o espectador de uma carga emocional intensa. É de aplaudir como eles conseguiram gerar emoção e ansiedade em uma corrida que aconteceu a mais de 30 anos atrás. Parece que estamos assistindo pela primeira vez.
No entanto, a série não está isenta de críticas, meu principal problema foi a maneira que escolheram para contar sua história. Biografias autorizadas correm o risco de apresentarem uma visão polida demais, e isso se reflete aqui. A tentativa de manter a imagem de Senna moralmente perfeita em todos os aspectos soa, por vezes, forçada e tira um pouco da complexidade do personagem. A interferência da família no roteiro resultou em uma narrativa pragmática e previsível, que pouco acrescenta ao que o público já conhece sobre o piloto.
Algumas decisões criativas, como mostrar pessoas humildes assistindo às corridas, geraram controvérsia, afinal, acabou ficando como um recorte minúsculo mas são eficazes para ilustrar o impacto social de Senna. Esses momentos reforçam como ele transcende o esporte, unindo o país em um sentimento coletivo de esperança até hoje. Por outro lado, mais uma vez, a imagem messiânica do Senna acaba deixando um pouco cafona. Precisamos de novos ídolos…
Pontos Positivos:
- Atuação de Gabriel Leone;
- Produção e ambientação impecável;
- Fotografia e trilha sonora que elevam a narrativa.
Pontos Negativos:
- Roteiro previsível e com pouca novidade;
- Excesso de controle familiar na construção da narrativa;
- Imagem de Senna retratada de forma idealizada e unilateral.
A Era de Ouro da Fórmula 1
A segunda metade dos anos 1980 e o início dos anos 1990 são amplamente considerados a Era de Ouro da Fórmula 1. Esse período marcou o auge de disputas lendárias, inovações tecnológicas e rivalidades icônicas que elevaram o esporte a um novo patamar de popularidade global. Ayrton Senna despontou como o grande nome dessa era, como mostrado na série, estreando em 1984, mas foi em 1988, com a McLaren-Honda, que ele começou a construir seu legado. Sua rivalidade com Alain Prost tornou-se um dos capítulos mais emblemáticos do esporte, especialmente com as disputas ferrenhas nas temporadas de 1989 e 1990.
Esse período é reverenciado não apenas pela qualidade das corridas, mas também pelas personalidades que moldaram o esporte. Pilotos como Senna, Prost, Mansell e Piquet não eram apenas competidores, mas heróis nacionais e símbolos globais de determinação e coragem. A morte de Senna, embora trágica, deixou um legado de busca incessante por segurança, inovação e paixão pelo automobilismo, eternizando seu nome na história do esporte.
O que é real e o que é ficção
Na mistura de realidade e ficção ao retratar a vida do piloto Ayrton Senna. A jornalista Laura Harrison, interpretada por Kaya Scodelario, não existiu na vida real e é uma personagem fictícia que representa os profissionais da imprensa que acompanharam o piloto.
A série destaca momentos marcantes, como a vitória de Senna na Fórmula 3, em 1983, com uma tática inusitada: usar fitas adesivas na entrada de ar do radiador para aquecer o óleo e aumentar a velocidade do carro.
No entanto, ao contrário do que a série sugere, Senna treinou essa manobra por semanas antes da corrida. Ele conseguiu remover as fitas na sexta volta e venceu a prova, abrindo caminho para a Fórmula 1.
Outro momento fielmente retratado é a derrota de Senna em Mônaco, em 1988. Apesar de ter feito a pole position e liderou a corrida, o desfecho foi inesperado. A série mostra a rivalidade com Alain Prost e a reviravolta na prova, conforme ocorreu na vida real.
…
Apesar das limitações no roteiro, Senna é uma produção que vale a pena para os fãs e para aqueles que buscam relembrar a trajetória de um dos maiores ídolos do Brasil. Não reinventa a história, mas celebra com dignidade e emoção o legado de um herói nacional. Mas se você quiser se aprofundar melhor, indico o documentário: Senna: O Brasileiro, O Herói, O Campeão de 2010, que está na Netflix.
Senna, 2024
Veredito: 3,5/5
Onde assistir: Netflix
Criadores: Vicente Amorim
Avaliação da IMDB: 8,5/10
Agregador no Rotten Tomatoes: 50%
Confira mais textos do colunista: www.socialbauru.com.br/author/gabrielcandido